terça-feira, 19 de julho de 2011

O velho amor



Há alguns dias Helena e André voltaram ao hospital onde tiveram um filho interrompido. Desta vez para a última visita à Velha M. Embora longe de parecer com aquela que bem acolhera o casal na então nova cidade,  a mulher guardava ainda alguma fé e vontade. Helena, no entanto, previa o desfecho. Conhecia o caminho. O pai lhe havia ensinado anos  atrás. Não esqueceria. Correu amparar o Velho G, dono do melhor "bom dia!" que lhe tinham desejado. Ficaram assim divididos: André brincando de faz de conta com a Velha, e Helena abrindo passagem para as lágrimas do Velho. Enquanto aqueles planejavam uma festa de São João que não aconteceria, estes, muito emocionados, se diziam doloridas verdades com imenso carinho.
Helena, feroz na defesa de seu projeto individualíssimo, na recusa em seguir com André por onde tivessem muito o que aprender juntos, ouviu de quem bem sabia o fim das contas:  "Dê-lhe a mão. O espetáculo que você não fizer é menos importante que a vida que você não viver." Soou-lhe violento.
A má notícia acaba de chegar. 
Helena chora pelo Velho G, que ficou sem o seu amor da vida inteira. E chora por si, tão incapaz de seguir-lhe o conselho.

Ceronha Tristonha
Recife-Pe
19 de julho de 2011

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